terça-feira, 25 de janeiro de 2022

À morte do Inominável


Claro, queremos tua morte

Mas que não seja rápida

Tampouco indolor

 

Queremos que vá,

Mas vá aos poucos,

Gota a gota, escorrendo,

 

Como escoam os venenos mais torpes.

 

Que seja processual,

Que seja sistêmica e programática,

Sem frescura, sem mimimi

E que morra sufocado, sufocante, afogado no ar

Para que cada passo adiante

Nos redima de cada passo que nos deste pra traz,

 

Sem choro.

 

Queremos tua morte, claro,

Como o banguela faminto que sorve da fruta o suco

que o salva da fome,

 

Como criança de rua barrigudinha na loja de doces

Que estraçalha o vidro em frenesi religioso.

 

Não queremos tua morte como paixão pé de serra,

queremos tua morte como o esquife que passeia pela alegria do Rio Amazonas

Enquanto os novos Makunaimas fazem seu anti-kuarup frenético

celebrando a vitória de Exú e Dioniso.

 

Queremos tua morte assim como o sertanejo bendiz a chuva,

Como a puta em cinta-liga que se santifica, lânguida, no altar.

 

Queremos sim a verdade libertadora de tua morte

 

Mas imediatamente depois esqueceremos teu nome,

Esqueceremos os motivos da festa e a própria festa,

Nas mesmas águas dos rios que saciamos nossa sede

lá onde plantamos os umbigos de nossas crianças,

Porque agora nos chamamos Outros,

Porque agora nos tornamos fortes,

 

Porque tua morte

Haverá de ser apenas

Um pequeno istmo

Da potência que nos tornamos.

 

Será um estalo breve, um repique
Dos lindos dias vindouros

De um hoje a viver no Sempre.

 

SaravAmém

 

 

                                                   Fábio Casemiro

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Oi Gerusa!!!.
      Seja bem vinda!!!

      Claro que pode! Sempre!!

      (Já faz tempo, mas sempre é tempo de poesia!)

      Abraços

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