Claro, queremos tua morte
Mas
que não seja rápida
Tampouco
indolor
Queremos
que vá,
Mas
vá aos poucos,
Gota
a gota, escorrendo,
Como
escoam os venenos mais torpes.
Que
seja processual,
Que
seja sistêmica e programática,
Sem
frescura, sem mimimi
E
que morra sufocado, sufocante, afogado no ar
Para
que cada passo adiante
Nos
redima de cada passo que nos deste pra traz,
Sem
choro.
Queremos
tua morte, claro,
Como
o banguela faminto que sorve da fruta o suco
que
o salva da fome,
Como
criança de rua barrigudinha na loja de doces
Que
estraçalha o vidro em frenesi religioso.
Não
queremos tua morte como paixão pé de serra,
queremos
tua morte como o esquife que passeia pela alegria do Rio Amazonas
Enquanto
os novos Makunaimas fazem seu anti-kuarup frenético
celebrando
a vitória de Exú e Dioniso.
Queremos
tua morte assim como o sertanejo bendiz a chuva,
Como
a puta em cinta-liga que se santifica, lânguida, no altar.
Queremos
sim a verdade libertadora de tua morte
Mas
imediatamente depois esqueceremos teu nome,
Esqueceremos
os motivos da festa e a própria festa,
Nas
mesmas águas dos rios que saciamos nossa sede
lá
onde plantamos os umbigos de nossas crianças,
Porque
agora nos chamamos Outros,
Porque
agora nos tornamos fortes,
Porque
tua morte
Haverá
de ser apenas
Um
pequeno istmo
Da
potência que nos tornamos.
Será
um estalo breve, um repique
Dos lindos dias vindouros
De
um hoje a viver no Sempre.
SaravAmém
Muito bom. Pode ser compartilhado?
ResponderExcluirOi Gerusa!!!.
ExcluirSeja bem vinda!!!
Claro que pode! Sempre!!
(Já faz tempo, mas sempre é tempo de poesia!)
Abraços