sexta-feira, 3 de julho de 2020

Muito além dos corvos




Eu que não dou conta desse mundo polifônico, 
cheio de fantasmas cantantes
Esquálidos esquifes dizendo eu sou.

 

Já eu, não. Não sou nem isso, nem aquilo.
Eu sou o outro que olha o mundo pela janela de 
dentro,

Da prisão eu sinto como porta cada barra da grade
 da vida.

Nessa prisão de almas em vídeo clipe, inferno de 
Dante, a saída é entrando cada vez mais. Quem 
poderá diante do deus faminto, erguer suas hastas 
em hostes, entre hashtags ou óstias?

Esse é o fim, meu doce amigo. O fim já estava lá dentro, 
a fruta dentro da casca gritava zumbindo como 
mosca: podres todas as canções.

Sem você ao meu lado, o chão é mole como cera. 
Como
São mais moles agora as placas da história,
Se o poeta soubesse,

Ele cantava todas as canções de caçada,
Regadas a vinho falerno,
Nos aquecia com mais histórias,
Urubu cabeça de martelo

E não nos deixava no inverno desses nossos dias
Eu não teria jamais o deixado ir, ainda mais
No dia santo do lagarto rei.

É noite, minha alma se aclara,
O véu da madrugada se volta contra os 
achacadores de revolta e volta
A nos assombrar com o vívido véu da morte.

Com sorte, minha consorte nos trará sonhos para o
 convescote

A morte
A morte quer o mundo e eu,
Simplesmente,

Só sei desobedecer com a arte,
Os doces espantalhos no meu quintal.

~Para Roberto Piva
10 anos de sua morte ~


Fábio Casemiro
03 de julho de 2020

Recomendo,
Você ler ouvindo...




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