terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Sobre Romantismo: afinal, o que é Romantismo?

 




Saiu vídeo novo no nosso canal do You Tube!

Bora falar de Romantismo? Afinal, que bicho é esse? Onde habita? De que se alimenta....

Segundo vídeo do canal! Se inscreva, deixe o like, ative o sininho, compartilhe e faça seus comentários na página: vc curtiu? vc tem sugestões dúvidas e críticas?

Esse espaço é nosso,

Bora construir isso aí juntos!

Abrax,

Prof. Fábio Martinelli Casemiro



sexta-feira, 23 de setembro de 2022

A ESTRADA

 



É preciso transcender o vício,

repercorrer desde o início,

reencontrar a palavra no livro,

no coração do exercício.

 

No verbo supercílio,

ele sangra seu edifício.

Como reaver a estrada,

se a cada passo, em risco,


 

o silêncio toma de assalto

o monstro assoberbado,

o intervalo de um precipício?

 

É mister o mistério do alto:

intervalo que às sombras revela,

a morte ou a música de um salto.

Fábio M. Casemiro

Primavera 2022

uma trilha para a leitura...




quinta-feira, 16 de junho de 2022

RATANABÁ

 


Desde ontem o sonho dourado

fêz-se assombroso ante todos

os incautos e deslumbrados

que o acataram bem portentoso...


 

E tornaram delírios etílicos

em miragens como notícias.

Todos rimos com as delícias

alucinações dos parvos brasílicos

 

Tomam fake news antiga e tonta

porque são bastardos do Eldorado

e que não vêem Aguirre como besta ôca.

 

E quem pedir que eu conte outra,

eu mando um “a” um “é” um “i” e um “u”

O Ratanabá é um roto rato no “bú”.

 

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Hear the Syrens

 


Leia ouvindo a música Sirens da banda Pearl Jam.

Tem algo sobre mim que você não sabe: Tenho ódio à literatura, ódio e nojo. 

Estou cansado dessa apelação brega às supostas maravilhas da arte quando tudo é um mero círculo de comadres e "manifestações de apreço ao senhor diretor".

Odeio odiar a literatura. Isso porque me tornei um idiota que odeia o que não existe. Não existe literatura: existe mercado editorial, comércio de livros. Tampouco os estudos da literatura são reais. São uma desculpa, um subterfúgio prá gente covarde que mora num país miserável e que fica masturbando seus “talvezes”.

O que existe é um acúmulo de gente roçando suas chagas uberizadas, formando panelinhas nos zaps, rivalizando-se pela atenção de meia dúzia de batedores de punheta-ausente: um desfile de comadres fingindo-se fingidores profissionais.
 
Tik-tokers do além-cânone, instagrammers da moda-modinha, ativistinhas da mamãe... Vão se fudê!
 
O que existe é mercado da atenção, hype de vendas e uma orquestra de jovens ávidos para emplacar seu hic et nunc (porque todos os velhos, especialmente os doutores, todos devem ser mortos e seus cadáveres devem apodrecer numa biblioteca desativada de escola pública, que fica em alguma modorrenta cidade do interior: qualquer sertãozinho meia bosta serve).

Se houvesse literatura, haveria tempo. Se houvesse literatura haveria desejo e não essa procissão de selfies com livro, booktubers e professores de canal astropop. Se houvesse literatura haveria sangue de verdade, se houvesse literatura haveria gente disposta à conversa, ao dedo de prosa cheia de ouvidos peludos e café fumegante com queijo e doce depois da rede, e uma outra pitada no paiêro antes da página próxima.

O que tem é ciranda. É gente tonta tonteando a roda que a todos tonteia e mais ainda. Se houvesse literatura os mortos encantariam os vivos e haveria um respeito consensual que pairaria como uma música... Se houvesse literatura nos tornaríamos mais humanos, porque literatura é sobre humanizar-se (e não essa ostentação dos circuitos de consagração).

E se houvesse literatura, a gente não teria que ficar explicando, porque quando é, é óbvio que é (porque quando não é, é só capitalismo com páginas).

Quando não é literatura é mercado (e é também o mercado da crítica desse mercado que, por isso, não é crítica: o maravilindo dilúvio de vários nadas).
 
Se houvesse literatura ela poderia nos salvar de nós mesmos. Se houvesse literatura ela seria como num grande rito ancestral futuro, um encontro. Se houvesse literatura ela seria a única capaz de cantar a beleza. A literatura que existiria nos roubaria esse sono prá sempre do sono da morte...

E se houvesse, mesmo, literatura... ela poderia, ainda assim, nos salvar de nós mesmos. Se houvesse literatura... ela seria como num grande rito ancestral futuro, um grande encontro... Se houvesse literatura... ela seria a única capaz de cantar a beleza. A literatura que existiria...
                                                           nos roubaria
                                                    prá sempre
                                                              desse sono prá sempre
                                                       o sono da
                                                                         morte.
     
                                                          Mas Quem, 
                                                 em meio às ruínas, 
                                                ousará cantar a primavera?
 
 
                                                  Fábio Martinelli Casemiro
 


terça-feira, 19 de abril de 2022

A Ditadura Militar no Brasil do Hoje


        A Ditadura Militar (1964 - 1985) foi nossa segunda guerra mundial, foi nosso campo de concentração nazista.

Faz tempo que sabemos disso. Não dá prá recusar e insistir em governantes militares ávidos por sangue (como é o caso de Bolsonaro).

Lugar de militar é fora da política brasileira. É preciso desmilitarizar a República brasileira para que ela seja efetivamente uma República. Da guerra do Paraguai prá cá (1864 - 1870) nossa história vem sendo tutelada pelos militares...

>>>Chega de tutela militar!

O Brasil precisa se tornar uma República digna do povo brasileiro. Uma República capaz de abarcar suas múltiplas culturas, povos, etnias, credos, cores, gêneros e possibilidades.

A tortura no Brasil tem história e foi construída desde a época dos capitães do mato até o atual Capitão.  Não dá mais prá aceitar que de tempos em tempos sejamos reconduzidos ao totalitarismo sob a vara da tutela militar!

Não dá!

A história do povo brasileiro cabe ao povo brasileiro. Povo em sua multiplicidade, povo que engloba todos, que respeita povos. A história do Brasil é a história de uma elite canhestra e cafona, macomunada com militares que só sabem defender seus privilégios (como uma espécie de sociedade de corte)...

Depois de 1822, quando nos livramos da coroa portuguesa, começamos à viver sob a égide da família real... Daí em 1889 veio a República pela força militar (e vivemos sob governo milico até 1894) ... Nossa República foi civil de 1895 até 1930 quando os militares resolveram retomá-la com Vargas e com o Estado  Novo (1930 - 1945)... Voltamos a ser República civil de 1946 até 1964 - mas os milicos ficaram tentando voltar ao poder mesmo assim - e conseguiram retornar mais uma vez sob a vergonha da Ditadura civil-militar (1964 - 1985).... Agora voltam com uma "nova" ditadura civil-militar mal disfarçada no governo do Bozonazi (são mais de 6 mil militares ocupando cargos políticos no Brasil hoje)....

Chega!!!

A República é civil! Militar tá sobrando! 

O que está sendo revelado agora já é sabido há décadas. Os militares se rebelaram contra Dilma pela implantação comissão da verdade! O golpe de 2016 foi por vingança e medo, porque os militares se borram de medo de serem devidamente responsabilizados pelos seus crimes... Assim como Bozonazi que sabe que a "papuda lhe espera"...

Não dá!

Não pode haver República democrática no Brasil enquanto os militares se acharem no direito de intervir no jogo político brasileiro.

Os militares são o nosso Luís XVI

História contemporânea se faz com Revolução Francesa.

Façamos a nossa

Que nossa próxima eleição em 2022 nos seja afiada como guilhotina. Os militares tem muita fronteira prá cuidar, muito meio fio prá pintar, muito carburador de tanque velho e enferrujado prá regular o carburador....

A República Brasileira precisa nascer!

~~o0o~~

Deixo aqui alguns livros bem básicos de apoio para essa reflexão:

*Casa Grande & Senzala - Gilberto Freyre.

*Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda.

*Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi - José Murilo de Carvalho

*Forças armadas e política no Brasil - José Murilo de Carvalho.

*Brasil: De Getúlio a Castelo (1930 - 1964) - Thomas Skidmore.

*Brasil: De Castelo a Tancredo (1964 - 1985) - Thomas Skidmore.

*Brasil: Nunca mais - com Prefácio de D. Paulo Evaristo Arns.

 

Para conseguirmos amarmos o Brasil é preciso ainda antes enfrentarmos o terror de sua história.

Abraços, 


Fábio Martinelli Casemiro 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Deus me Livro do Verso



                                                    (Ao amigo poeta Ricardo Leão)



Livre, só o poema no Livro


O Verso é sempre o lado

            de lá

A forma do Verso é a prisão                              que liberta

O poema é a caneca do encarcerado faminto

batendo na grade do verso: gera incômodo e ritmo

e alimenta.


Fábio Martinelli Casemiro

Inferno de 2022 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Pré-venda do meu livro CANÇÕES A LÁPIS PARA UM HOMEM MORTO

 


Caríssimas, caríssimos... Finalmente vem a público meu segundo livro de poemas, o "Canções a Lápis para um Homem Morto", pela Editora Patuá.

O livro funciona como um libreto de rock/ópera: você lê os poemas junto com a playlist que preparei, baseada no filme "DEAD MAN" (direção Jim Jarmusch, trilha sonora de Neil Young)

As trilhas estão disponíveis no Deezer e no You Tube via QR CODE no próprio livro (Não mais no Spotfy por conta do justíssimo boicote do Neil Young!)

O "Canções" é meu libelo telúrico antifascista, escrito - primeiramente a lápis - ao longo de todo o 2018... Agora taí, em PRÉ-VENDA procê conferir, gostar, odiar, chorar e principalmente gritar a poesia!

Leia CANÇÕES A LÁPIS PARA UM HOMEM MORTO!


#poesia #poesiabrasileira #poesiacontemporanea #poesiaantifascista #literaturabrasileira #literaturabrasileiracontemporanea



https://www.editorapatua.com.br/produto/259117/cancoes-a-lapis-para-um-homem-morto-de-fabio-case

 



terça-feira, 25 de janeiro de 2022

À morte do Inominável


Claro, queremos tua morte

Mas que não seja rápida

Tampouco indolor

 

Queremos que vá,

Mas vá aos poucos,

Gota a gota, escorrendo,

 

Como escoam os venenos mais torpes.

 

Que seja processual,

Que seja sistêmica e programática,

Sem frescura, sem mimimi

E que morra sufocado, sufocante, afogado no ar

Para que cada passo adiante

Nos redima de cada passo que nos deste pra traz,

 

Sem choro.

 

Queremos tua morte, claro,

Como o banguela faminto que sorve da fruta o suco

que o salva da fome,

 

Como criança de rua barrigudinha na loja de doces

Que estraçalha o vidro em frenesi religioso.

 

Não queremos tua morte como paixão pé de serra,

queremos tua morte como o esquife que passeia pela alegria do Rio Amazonas

Enquanto os novos Makunaimas fazem seu anti-kuarup frenético

celebrando a vitória de Exú e Dioniso.

 

Queremos tua morte assim como o sertanejo bendiz a chuva,

Como a puta em cinta-liga que se santifica, lânguida, no altar.

 

Queremos sim a verdade libertadora de tua morte

 

Mas imediatamente depois esqueceremos teu nome,

Esqueceremos os motivos da festa e a própria festa,

Nas mesmas águas dos rios que saciamos nossa sede

lá onde plantamos os umbigos de nossas crianças,

Porque agora nos chamamos Outros,

Porque agora nos tornamos fortes,

 

Porque tua morte

Haverá de ser apenas

Um pequeno istmo

Da potência que nos tornamos.

 

Será um estalo breve, um repique
Dos lindos dias vindouros

De um hoje a viver no Sempre.

 

SaravAmém

 

 

                                                   Fábio Casemiro

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Não olhe para o texto, nem para o meteoro

 



...Sob  o pecado mortal dos spoilers, amém...

 

Este texto é um texto para não ser lido porque não é escrito nas redes do Mark, não se uberiza, não se reduz às polarizações do ódio tão cultivadas: ódio é a gasolina do capitalismo, mas sim... Este é mais um texto sobre aquele filme do qual já nem precisamos dizer o nome. O filme de Adam McKay já é o novo Voldemort deste “novo” ano que se inicia.

Pobre contemporaneidade, entre likes e deslikes, vence o filme que já trazia a própria chave de leitura hoje: não interessa a obra, mas a polarização que gera. A polarização é a gasolina que toca o motor, é também nossa explosão meteórica...amém.

Quem sabe das coisas é Oscar Wilde que já na virada do século passado dizia no prefácio do seu Dorian Gray: “A antipatia do século XIX pelo Realismo é a raiva de Caliban ao ver sua cara no espelho. A antipatia do século XIX pelo Romantismo é a raiva de Caliban por não ver a sua cara no espelho.” ...E, um pouco mais adiante, no mesmo prefácio: “É o espectador, e não a vida, que a arte realmente reflete.”...

Pronto, Wilde matou a charada do século XXI já no final do século XIX: no futuro, todo mundo engoliria o narcisismo do mundo oitocentista e seria incapaz de se deleitar com a capacidade da arte de rir de seus espectadores...rs... Ponto pro Wilde.

Mas a final, o que é um meteoro? Segundo os dicionários (e os astrônomos), meteoro é todo fenômeno que ocorre na atmosfera (arco-íris e chuva, pasmem, são meteoros). Daí que os meteoros são, desde nossos tempos mais antigos, os tataravôs dos óvnis, dos ufos, dos discos voadores... É do céu que o ser humano julga ter vindo, é para o céu que o ser humano julga retornar (nas mais diferentes culturas, desde os cristãos até os indígenas brasileiros).

O filme Não olhe para cima mexe com algo moderno e antigo, científico e mítico: o corpo intergaláctico (asteroide) quando se torna visível (e nos extermina) se torna um meteoro. Ele é nossa última divindade que vem dos céus e nós, incapazes de devorarmos nossos deuses, morremos por ele (oferecendo nossa miséria como última oferenda)...rs.

Tô viajando? Não. Parece que quase ninguém comentou (nessa nauseabunda terra de guerra que são as redes antissociais) que o filme foi programado para vir a público somente no dia 24 de dezembro de 2021. E esse é um elemento paratextual muito importante. O filme foi anunciado semanas antes de sua data de lançamento, preparando assim o terreno para que fosse recebido numa determinada data que, bem sabemos, trouxe uma carga mítica muito poderosa, destaco: 24 de dezembro de 2021 foi a noite de natal, certamente, a mais intensa deste nosso novo século XXI, porque todos nós fomos “convidados” à celebração de nossas vidas, afirmando nossa sobrevivência diante do flagelo da morte. Tanto em luta, como em luto, esse natal ganhou um sabor jamais experimentado pelo mundo contemporâneo desde a pandemia de gripe espanhola e desde as duas Grandes Guerras Mundiais... O filme queria ser visto no Natal de 2021, não é nenhum exagero atentar-se para esse fato.

Daí que o filme mostra dois sacerdotes da ciência contemporânea anunciando a “anti-boa nova”: essa nossa estrela de Belém (do século XXI) será a última estrela de Belém. Nossos dois reis magos são cientistas “ateus” que funcionam também como cavaleiros do apocalipse: depois da peste, a morte.

Esta é a maior e a primeira caricatura que o filme imprime. À luz dessa caricatura mestra, todo o ocidente enquanto epicentro da salvação cristã é questionada, toda racionalidade hegemônica é revelada em sua fragilidade e o planeta explode pela competência sarcástica do mito (a estrela cadente/meteoro) que parece responder à máxima nietzschiana: “Ora, ora... se o homem em sua sabença julga matar o divino, então tome estrela cadente como resposta divina à tua arrogância”... E deus ri à socapa...

Compreendido à luz dessa primeira grande caricatura (e articulando-se à ela toda a arquitetura de caricaturas que opera) a força sarcástica do riso se multiplica e, se nos reconhecemos do lado de cá dessa ópera trágica/bufa, poderemos responder com outra fala do mesmo bigodudo alemão quando reconhece ele o frágil poder consolador da arte:

Não! Vós deveríeis primeiro aprender a arte do consolo deste lado de cá – vós deveríeis aprender a rir, meus jovens amigos, se todavia quereis continuar sendo completamente pessimistas; talvez, em consequência disso, como ridentes mandeis um dia ao diabo toda a “consoladoria” metafísica e a metafísica em primeiro lugar! (NIETZSCHE, O Nascimento da Tragédia, Cia das Letras, 2007, pp. 20-21)

Visto por esta chave, que podemos denominar (como nos mostra Umberto Eco em Interpretação e Superinterpretação) de “vontade do texto” – a saber, ser lido e compreendido à luz de paródia da mítica natalina – o filme nos mostra como nossos dois tronchos reis magos, seguindo a estrela cadente do apocalipse, virão nos presentear com as joias da verdade.. e nós (no filme ali representados) as atiraremos prontamente ao lixo, consagrando ali nossa finitude, nossa miséria e, definitivamente, nos revelando como a paródia mais malsucedida de deus (se somos a imagem e semelhança do divino, esse deus executa exatamente a mesma bofetada do engenheiro argonauta, do também odiado filme Prometheus de Ridley Scott).

Sob este prisma da paródia natalina, a cena final ganha um significado bem divergente do que vem pregando a crítica mais hypada de nossas “doces” re-dissociais: o cristianismo de última hora do cientista, o perdão à poligamia pela esposa, o millennial pós-pseudo-evangélico puxando a reza, o afro-americano à cabeceira, a cientista descolada, os bons filhos brancos e obedientes vão todos morrer numa santa ceia paródica que denuncia a incapacidade da humanidade de operar como organismo coerente e sólido diante de uma adversidade devastadora e comum.

Essa paródia de santa ceia crística, contudo, não é simplesmente um fenômeno eventual. Ela foi historicamente financiada pela grande invenção ocidental, o capitalismo, força construtora de múltiplas ideologias que operam como véu de maia à dominação do gado-humano: o bilionário da BASH megacorporação impediu o desvio do asteroide e teve sua sobrevivência (e dos seus) provisoriamente assegurada pela espaçonave... mas depois serão devorados pela onipresença do deus-selvagem/natureza em um planeta distante qualquer (eis que daí ressurge o paradigma “a vingança do deus & os aliens somos nozes”...rs). Capitalismo é destruição. O objetivo do capitalismo é destruir a tudo para poder destruir-se em paz!

...E por último, vemos nascer o übermensch nietzschiano, mas igualmente paródico: um bonachão imbecil negacionista escroto digno dos herdeiros das melhores/piores republiquetas das Américas...

Dioniso é o deus do drama, da tragédia, mas da comédia, também. Na Grécia antiga as representações de Dioniso eram máscaras descabeladas ridentes, penduradas nas épocas festivas por todos os cantos... além do sorriso próprio do grande deus ridente, seus olhos espelhavam o horror da górgona, a medusa com seus cabelos de serpente capaz de petrificar àqueles que encaravam seu horror.

Se não me engano foi Nietzsche (a partir de Schiller) que disse que a arte tem o poder do escudo de Perseu, porque espelha o horror que nos petrifica e nos permite encará-lo pelo seu reflexo... Penso que ninguém tem que gostar ou não de um filme, nem tem obrigação alguma de ver ou não determinada obra. Às vezes você não é o público dessa obra e “tá tudo bem”...

O que me impressiona é essa gasolina de ódio em torno de uma obra de arte... Teve gente brigando com caricatura (qual o problema? Cêis não assiste filme de super-herói?...rs)... Teve gente brigando com metáfora (Uai?.... Cêis queria arte sem metáfora????...rs)...

A questão do ódio é que quando ele toma a linguagem, a linguagem se torna o meteoro ele mesmo. Às vezes, “um filme é só um filme” (parodiando o tio Freud)... E quando o ódio vira a linguagem, ninguém mais vê a bela metáfora que mora naquele meteoro/caricatura... Olham prá cima, olham prá baixo, mas o texto (a obra, a arte) ...

... isso ninguém quer ver mais, o ódio venceu a beleza.

 

Fábio M. Casemiro

 

 


sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

A Cosmo-agonia das redes & a Vacina Dialética

 


Não há comunicação efetivamente democrática nas redes sociais, o que há é algo terrivelmente nocivo e destrutivo que podemos chamar de "gerenciamento de rebanho", ou se preferirmos de "manejo de seguidores".

 

Na rede social a informação se empobrece, se torna rasa. Não há nenhum lugar efetivo para o debate porque não há curadoria da informação... Ou ainda pior, há uma curadoria que se disfarça de ausência para gerar um efeito fake de consenso. Nestes termos, a realidade é fabricada como simulacro moldado pelos algoritmos que têm no ódio e na captura de dados pessoais (gostos, gestos, posturas, opiniões, códigos, sentimentos) o ouro que é prospectado todos os dias (e que termina nas mãos dos donos do capital, a saber, os donos das redes - sim, elas são privadas, nunca é demais relembrar).

 

A sociedade disciplinar panóptica proposta por Michel Foucault (em Vigiar e punir) não foi superada, ao contrário, ela foi poderosamente engolida por cada indivíduo que alimenta o sistema com sua "energia corpórea", do modo mesmo como assistimos no filme The Matrix: Sempre conectados à rede que nos provém de inebriante serotonina, nós alimentamos o sistema com nossos dados.

 

As redes sociais são o novo cigarro e o cyberproletariado funciona como um adicto. Mas como as redes se transformaram no ponto fulcral da comunicação contemporânea, elas se tornaram o efetivo “ganha pão” das pessoas: todos nós operamos como cyberproletariados e, por isso, as redes tomaram para si o lugar de epicentro do capital. No capitalismo o controle do capital é um privilégio de classe: no capitalismo das redes, isso não é diferente e, ao contrário, mostra-se ainda mais radical (e mais violento porque aprofunda desigualdades em níveis jamais vistos). Não há “fora das redes” simplesmente porque não há “fora do capital”.

 

Esse é o nó górdio das redes. Ninguém consegue trabalhar contra, a oposição a isso é simplesmente uma ilusão que alimenta os mais crédulos que acabam, em polaridade oposta, executando o mesmo movimento: mobilizam rebanhos que são articulados em torno de vieses de confirmação, gerando engajamento, exposição... Lucro das redes novamente.

 

Essa não é uma nova realidade, mas uma nova irrealidade, uma grande ilusão coletiva (subdividida em bolhas, em ilhas... Mas necessariamente ilusória).

 

A realidade humana (aquela que abandonamos quando nos conectarmos às redes), ela é dialética, constantemente contraditória, complexa, indomável... Mas, nas redes, não há espaço para a dialética: as opiniões são levadas ao extremo até que se criem polaridades irreconciliáveis: nos tornamos incapazes de nos comunicarmos fora das redes. As redes criam em nós formas polarizadas de comunicação e nós funcionamos cotidianamente pela retórica das redes mesmo quando estamos fora delas: passamos a selecionar as pessoas partindo da lógica das bolhas e, com isso, mesmo distantes dos celulares, garantimos que a vida real se comporte segundo os preceitos de nosso adestramento cultivado nessa nova cosmogonia. 

 

... E a cosmogonia das redes é a cosmomaquia do real.

 

Me assusta que mesmo isso sendo de conhecimento geral (tá tudo no documentário O dilema das redes da Netflix, por exemplo), os mais críticos (?) ainda insistam que há algo de positivo nas redes sociais: insisto, não há.

 

Um dia houve, em algum futuro ainda há de haver (todo sistema sempre gera dialeticamente sua própria decadência) alguma saída, mas hoje as redes são simplesmente a mais poderosa máquina de controle social jamais criada na história de toda a humanidade (nem o império romano, nem a igreja medieval... a sociedade do controle atingiu seu ponto mais alto no hoje. Espera-se que quando atingir seu apogeu, comece a construir, dialeticamente, seu próprio declínio).

 

Houve uma época áurea na comunicação mais democrática pela internet e redes sociais: foi a época dos blogs, flogs, sites, vlogs... As pessoas eram efetivamente curadoras de suas informações, ideias, propostas. Em seus espaços comunicativos expressavam suas visões de mundo de modo bastante autônomo (o que nunca impediu a canalhice, o discurso fascistoide, claro, mas a disputa pela atenção não era impulsionada pelo trabalho espúrio das lavouras de ódio algorítmico).

 

Com os microblogs como twitter, Facebook, Instagram et caterva a dominância do algoritmo do ódio se impôs: deixamos de cultivar e compartilhar nossas ideias para sermos cultivados pelo manejo algorítmico de rebanho... A lógica do rebanho só pode nos levar ao mundo gado, não importa quão democrático pareça seu posicionamento: a lógica de circulação informacional das redes sociais funciona pelo arrebanhamento, pelo slogan, pelo grito de guerra: sem abertura para o complexo, para o contraditório, o fundamental charme da idiossincrasia humana se perde e tudo se torna ódio ordenhável pelos oligopólios do controle.

 

O humano é essencialmente contraditório. As redes sociais não permitem o contraditório, o dialético. Elas simplificam, tornam raso, modulam narrativas para o controle social. Pouquíssimos dos “usuários” são imunes a esse controle... Grande parte da população sem acesso é mais pauperizada e, invariavelmente, se torna controlada por uma classe "formadora de opinião" que é justamente formada pela retórica/lógica das redes. É preciso que se entenda: rede social é a forma contemporânea da ideologia dominante (no sentido marxista do termo).

 

Não sei quando, não consigo prever os futuros episódios..., mas quando rede ruir, ruirá pelo contraditório, pelo arrebatador poder da complexidade humana...

 

O princípio contraditório humano é mais poderoso que o controle das redes... eu acho. 




Fábio M. Casemiro

28 de Novembro de 2021

 

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Rádio Palavra - Leitura de poemas de Alexandre Guarnieri

No meu canal do You Tube, Rádio Palavra, eu li os três poemas iniciais do livro Casa das Máquinas que compõe a antologia poética de Alexandre Guarnieri intitulada Arsênico e Querosene.  Os poemas se intitulam respectivamente "Componente Zero", "Interruptor" e "1/Uma lâmpada".



Gosto muito da poesia de Guarnieri porque, a meu ver, ele sempre coteja o mecanismos, as máquinas, os instrumentos, as coisas que rodeiam as pessoas: e são as coisas que produzimos que nos dão sentido. A técnica, a mecânica, a física são elementos que no humano, o humanizam (e/ou deveriam humanizá-lo).

Razão e sensibilidade dançam na poesia de Alexandre Guarnieri, mas não na chave do romantismo, do idealismo: a poesia é técnica, mas é a técnica que, suja de graxa, nos estilinga até o cosmo, até que nos engravidemos de antigravidade. Telúrico e celestial, intuitivo e sofisticado, formal e iconoclasta... Venenoso e inflamável como Arsênico e Querosene.

Leiam Guarnieri, Arsênico e Querosene pela Kotter Editorial.

Viva a poesia!

Só ela nos Saravá!!!

Amém! 

__________________________________

Obs: A música ao fundo da leitura do poema é de composição própria e foi especialmente composta para o poema. Acho que estou começando a gostar dessa experiência: música para poema, música que lêem poemas. (Isso ainda me dará um disco, um livro... ou os dois...rs)

sexta-feira, 9 de julho de 2021

A Democracia e o Medo e Delírio em Brasília

 

https://www.central3.com.br/category/podcasts/medo-e-delirio/

O Medo e delírio em Brasília é um podcast (a partir de um blog) que narra de modo cômico todo o mal estar da atual política brasileira. Penso que o Medo e Delírio é o melhor dos mundos porque imprime bom humor ao nosso desespero e nos informa muito bem, sempre rigorosamente fundamentado em fontes jornalísticas: a forma radiofônica que o locutor imprime recupera uma aura de 2ª Guerra Mundial e de Guerra-Fria que retroalimenta o contexto da insanidade política que vivemos: se o Brasil se comporta como um paciente de alzheimer que perdeu a lucidez a época do Repórter Esso, no auge da segunda guerra mundial, nada mais justo que trazer a textura da voz radiofônica, o saudosismo das vírgulas sonoras do rádio, para tentar dar conta da catástrofe semiótica que vivemos.

 

Recomendo o Medo e Delírio em Brasília (o blog é escrito por Pedro Daltro e a narração em formato podcast é de Cristiano Botafogo) como importante fonte de historicização de nosso contexto político e econômico do Brasil atual. ...Mas o episódio de hoje foi, eu acho, muito especial.

 

O episódio de hoje se intitula “A democracia brasileira, mais uma vez, morreu de morte matada” (o podcast que foi ao ar hoje diz respeito ao texto do blog que foi publicado em 07 de julho de 2021). ...Claro que não vou eu dar spoiler, tirar a graça insubstituível de você ouvir o que o Cristiano e o Pedro nos informam sobre os bastidores da política brasileira... Mas eu queria destacar que o Medo e Deliro traça em seus episódios a mais eficiente e detalhada narrativa jornalístico-investigativa sobre as movimentações da política brasileira, em especial as movimentações das nossas Forças Armadas. Há vários episódios, o Medo e Delírio se dedica a investigar como os militares brasileiros vêm se perpetuando no poder e como eles articulam as forças políticas brasileiras debaixo de nossas fuças, sempre acobertados por uma mídia brasileira canalha que finge não ver o que está acontecendo. O que o Medo e Delírio faz é trazer as notícias que passaram batidas, os eventos que foram propositalmente noticiados de modo débil, para que o grande público não compreendesse o que realmente está acontecendo nesse país.

 

E aqui vai minha conclusão (e não do Medo e Delírio): nossa imprensa canalha alisa, afaga e oculta as barbaridades dos militares, nos incute essa narrativa estúpida de “ala democrática de militares”, de “setores militares esclarecidos”, como se os leões da savana africana pudessem ser predadores veganos, ou como se os mosquitos (pernilongos ou muriçocas) escolhessem o sangue das vítimas pelo sistema ABO, como se fossem “sommeliers de sangue”... Cê ouviu falar da absurda reunião de Bolsonaro com praticamente todos os chefes das forças armadas neste último dia 06 de julho? Então... parece que só saiu no Correio Brasiliense, mas o Medo e Delírio compilou procê essa informação e articulou com outras igualmente fundamentais! Aí penso eu: até que ponto vai a suposta “oposição” da Globo e de outros jornais ao governo bolsomilico neste país? Temos um Partido Militar (PMs inclusos como força miliciana) e um Partido da Mídia Golpista (P.I.G.), tudo em off... O casamento não vai muito bem, mas ninguém fala em divórcio e, ao que tudo indica, está sendo preparado um jantar à base de pizza, não é?

 

Nossa política autoritária brasileira está cada vez mais ridiculamente nua e vive tutelada pelos “malditos milicos” desde o surgimento da república brasileira que um dia foi fundada sob a tradição assassina dos herdeiros da vergonhosa e sangrenta “Guerra do Paraguai”. Nossa república democrática é um mentira que vem sendo encenada desde Deodoro da Fonseca e que, em nome de uma falsa ética superior dos homens de farda, subjuga pretos, pobres e periféricos numa constante senzala a céu aberto. (...E antes que algum estúpido grite em defesa da monarquia, saibam: não poderíamos jamais esperar farsa menos abjeta da estirpe escrota dos bufões herdeiros de nossa monarquia tropical colonialista: República séria tem guilhotina de monarcas no currículo, menos que isso é anacronismo histórico, por favor).

 

Não pode haver democracia no Brasil enquanto vivermos sob a tutela de meros funcionários públicos pelancudos e recalcados cuja única prerrogativa é travestirem-se de farda e de botas (numa espécie de circo burlesco-sadomazô  de quinta categoria). Dito de outro modo, enquanto a democracia for uma licença dada pelos “homens” de farda... Enquanto vivermos em um país em que o presidente afirma que “Quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas forças armadas”(**), nós não teremos democracia, nem tampouco teremos república alguma.

 

“Temos ódio à ditadura, ódio e nojo!”... Com essa fala de Ulisses Guimarães, dita em tempos de assembleia constituinte de 1988, terminou o episódio de hoje do Medo e Delírio. Ficou curioso? Acompanhe o Medo e Delírio em Brasília. Todos os links necessários a este texto seguem abaixo.

 

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* (**) A fala de Bolsonaro sobre nossa democracia como prerrogativa de milicos pode ser confirmada por esse link do UOL no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=qbWOV2UCz48

* Sobre encontro de militares e de Bolsonaro neste início de julho de 2021 (e que vc não ouviu falar) segue o link do Jornal Correio Brasiliense: https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/07/4936485-reuniao-de-militares-no-planalto-avaliou-protestos-contra-bolsonaro.html

* Episódio de hoje do Medo e Delírio em Brasília, intitulado “A democracia brasileira, mais uma vez, morreu de morte matada”  : https://www.central3.com.br/dia-918-a-democracia-brasileira-mais-uma-vez-morreu-de-morte-matada-07-07-21/ Ou https://open.spotify.com/episode/14j23YfsngEK5RLMvJ6nNZ?si=64c4f0d5b7c34dba

* Link para o blog do Medo e Delírio em Brasília: https://medoedelirioembrasilia.wordpress.com/  

* “Ódio e nojo à ditadura”, por Ulisses Guimarães: https://www.facebook.com/watch/?v=349178996534208 e em reportagem da BBC: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45750071